Zumbis de celular: pesquisa demonstra que não sou só eu que me irrito com essa espécie

Como sou (mas não por larga margem) um integrante da última geração da espécie humana que viveu parte de sua vida nos tempos pré-telefone celular, ainda lembro do conselho que era dado antigamente: não ser descortês com as pessoas que estão conosco em um dado momento só porque o telefone tocou - e isso se dizia porque naquela época já havia quem deixasse os demais presentes esperando e saía correndo para atender ao telefone tocando, e aí ficava dedicado a ele, sem nem mesmo avaliar se o assunto tratado justificava a ausência de consideração aos circunstantes, fossem amigos, clientes, colegas de trabalho ou de quaisquer outras categorias dos relacionamentos humanos: sociais, afetivos, familiares, profissionais, etc.

Mas os tempos mudaram bastante. Há alguns meses li (e não guardei a referência) uma crônica brasileira sobre os zumbis de celular, estas pessoas (de todos os sexos, faixas etárias e situações sociais) que desligam o cérebro ao empunhar o celular durante atividades cotidianas, como andar pela calçada, aguardar na fila do supermercado ou - muito pior - dirigir um carro. Eles colocam a si mesmos - e aos demais - em risco grave de acidentes, demoram mais que o necessário para desocupar espaços de uso coletivo, atrapalham as filas, as calçadas, a circulação dentro dos ônibus, completamente alheios a tudo - e sempre acham que são apenas alguns instantinhos enquanto terminam de enviar só mas uma mensagem.

Isso quando não fazem pior: apresentam em voz insuficientemente baixa seus assuntos pessoais que o público ao redor não estava interessado em conhecer, discutem em voz alta (e naqueles fones bluetooth que eles parecem acreditar que os isolam do ambiente) seus estressantes assuntos profissionais, deixam tocar até o fim, sem atender, seus ringtones insuportáveis ou - horror dos horrores - ouvem no alto-falante portátil distorcido as suas músicas preferidas, tanto em espaços confinados quanto nos amplos.

Como este comportamento nos outros me irrita, eu naturalmente me policio para evitá-lo em mim mesmo - não gosto nem mesmo de atender ao celular na presença de mais pessoas em ambientes públicos, embora às vezes seja inevitável. Quem dera essa repulsa fosse contagiosa - afinal, parece que o número de zumbis de celular só aumenta, e é preciso encontrar logo um antídoto ou terapia.

Mas a divulgação de uma pesquisa nos EUA sobre os efeitos do uso mal-educado de celulares (também abordada pelos vizinhos do Zumo) mostra que ao menos não estou sozinho: a maior parte dos entrevistados se irrita com variados comportamentos de seus semelhantes ao celular.

E os abusos de lá são parecidos com os daqui: 80% dos pesquisados já testemunharam alguém fazendo algo como deixar um caixa do supermercado esperando até a conclusão da conversa, usar notebook em banheiro público, digitar ao volante, na igreja, em funeral ou em consultório médico. Isso sem falar nos telefones que tocam no teatro, cinema, tribunal e outras reuniões em que o toque em si já não é bem-vindo - e o ato de falar ao telefone, em si, é uma ofensa ao público em geral e aos participantes envolvidos.

Na liderança da irritação está o mais arriscado dos maus hábitos: com 72% dos entrevistados aparece a digitação ou leitura de mensagens em dispositivos móveis enquanto os usuários estão ao volante.

Que tal repensar os seus hábitos de uso de dispositivos móveis, considerando se eles são desagradáveis para as pessoas ao seu redor? Muito de nossa imagem e potencial de boa convivência em grupo depende deste tipo de atitude que tantas vezes não percebemos, e cuja melhoria às vezes está ao nosso alcance, bastando parar para repensar.

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