Como poupar: Criando um fundo de reserva pessoal

Nosso artigo de ontem foi dedicado a quem está procurando sair das dívidas, mas não é porque você está com saldo positivo que deve deixar de pensar na questão do gerenciamento financeiro pessoal.

Mesmo que você viva a feliz situação de quem tem saldo positivo todo mês, deixar de gerenciar suas finanças conduz a desperdícios que reduzem o benefício que estes recursos podem gerar (a você, à sua família e até mesmo à sociedade) e ao mesmo tempo podem acabar sendo lamentados em um eventual momento futuro de necessidade imprevista.

Esses imprevistos futuros são o centro do nosso foco de hoje, ao propor a criação de um Fundo de Reserva pessoal, administrado por você mesmo, para garantir a disponibilidade quando necessário.

Fundo de Reserva é uma quantia mantida sempre em separado do caixa e do restante do patrimônio, sempre disponível para cobrir despesas extraordinárias, emergenciais ou imprevisíveis.

É um conceito comum em condomínios, associações e sociedades, mas toda pessoa ou família pode ter um fundo de reserva. Para formá-lo é necessário poupar mensalmente (e em separado! não vale colocar junto com o dinheiro que está sendo economizado para alguma aquisição ou projeto...) uma parcela previamente fixada do orçamento, e fixar critérios no que diz respeito ao seu uso e manutenção.

Será que é a hora certa de começar um Fundo de Reserva?

Deixar de iniciar uma medida preventiva só porque haveria alguma outra coisa a fazer com o mesmo dinheiro é um argumento difícil de sustentar. Na verdade o momento ideal já passou; se você ainda não tem sua reserva formada, já está atrasado, e precisa começar o quanto antes ;-)

Do ponto de vista de finanças, manter um Fundo de Reserva, ou Fundo de Emergência, seja ele pessoal ou familiar, é uma providência relativamente cara, pois manter a liquidez (ou seja, a disponibilidade imediata do dinheiro) significa renunciar às aplicações com maior rendimento.

Só que o valor de poder contar com reservas aparece claramente não apenas nas emergências: dispor delas prontamente acessíveis acrescenta muita tranquilidade e facilita decisões que seriam muito mais sofridas se você estivesse, como tantas pessoas, sempre a não mais do que um contracheque de distância de ficar sem opções.

Especialmente ao considerar questões como ética no trabalho e as questões relacionadas ao assédio moral, é fácil perceber que dispor de uma reserva pessoal aumenta a condição de o funcionário recusar-se a fazer algo que o prejudique, pois pode encarar melhor a possibilidade de a opção pela ética acabar prejudicando a sua continuidade na posição atual.

BNunca é demais lembrar: medidas preventivas são difíceis a qualquer tempo, e só são efetivamente apreciadas na hora de fazer uso delas.

Começando o seu Fundo de Reserva

Manter um fundo de reserva é relativamente simples, mas começá-lo envolve decisões complicadas - tanto no aspecto motivacional, quanto no da efetiva implementação.

Em especial, é necessário antes saber diferenciar o que é consumo, o que é investimento e o que é um efetivo Fundo de Reserva. A idéia essencial de um Fundo de Reserva é que ele esteja disponível para uso imediato, e por isso precisa ser mantido em alguma aplicação com alta liquidez e baixo risco, o que geralmente conduz também ao baixo rendimento. Ter um imóvel, outro bem ou qualquer investimento que não possa ser convertido em dinheiro rapidamente não constituem bons fundos de reserva, embora possam ser opções de investimento.

Por outro lado, possuir o imóvel onde se mora, um carro ou outro bem que esteja em uso em geral se classifica muito mais como consumo do que como investimento (embora dê alguma segurança), e fica longe de ser um Fundo de Reserva, a não ser que seu uso seja completamente supérfluo (e você possa abrir mão de um dia para outro), e a liquidez dele no mercado seja alta e permanente, ou seja, sempre haja gente disposta a comprá-lo de você imediatamente pagando à vista - o que é raro, especialmente em crises.

Mas guardar dinheiro em casa (alternativa de altíssima liquidez teórica) geralmente é inseguro e obriga a abrir mão até mesmo das baixas taxas de remuneração que as instituições oferecem a quem quer guardar dinheiro mantendo a liquidez.

Portanto, após decidir implantar o fundo, você precisa tomar 3 decisões importantes:

Decisão 1: Onde aplicar seu Fundo de Reserva pessoal

A primeira decisão importante é onde você irá colocar esse dinheiro, equilibrando o interesse em segurança, em manter a atualização monetária, e em liquidez.

Para um exemplo: Fundos de Reserva de condomínios usualmente são aplicados em cadernetas de poupança e similares de instituições consideradas sólidas, abrindo mão de rendimentos superiores em prol da segurança e disponibilidade imediata.

Decisão 2 - Qual será o valor final do Fundo de Reserva

Ou seja: a segunda decisão é definir quanto se deseja vir a ter no Fundo de Reserva, quando ele estiver completo.

Devido ao aspecto motivacional, o ideal é definir um plano escalonado, com uma meta para 6 meses, outra para 1 ano, e outra para o final do segundo ano, por exemplo.

Naturalmente as metas devem considerar a sua capacidade de gerar poupança, seja pela ampliação da receita pessoal (geralmente mais difícil), pela redução de despesas (menos difícil) ou pelo redirecionamento do que seria aplicado em outros investimentos (mais fácil).

Um possível plano de metas pode ser: em 6 meses ter o suficiente para pagar um mês de suas despesas integrais, ao final do ano ter o equivalente a um mês e meio de seus rendimentos integrais reais, e ao final do segundo ano ter capacidade de quitar todos os seus débitos (aluguéis, prestações, financiamentos, mensalidades, etc.) pendentes por 2 meses, e ainda ficar com um saldo disponível equivalente a 2 meses de rendimentos integrais e livres - o que daria um bom fundo de reserva para manter abertas suas opções após a maioria das emergências.

A literatura especializada muitas vezes define como valor final um total exagerado, equivalente a 6 a 8 meses de seu rendimento mensal. Eu discordo: se você tem condições de poupar tanto dinheiro, guarde no fundo de reserva no máximo o equivalente a 3 meses das suas despesas (e não do rendimento!), e coloque o restante em aplicações de maior rendimento (mas sem imobilizar completamente).

Afinal, numa eventual necessidade, após o primeiro mês vivendo do seu fundo de reserva você já terá reformulado suas despesas para os meses seguintes, e terá também condições de tornar líquidos os outros investimentos de maior rentabilidade em que aplicou estes recursos adicionais, ao invés de mantê-los sempre no fundo.

E note que as medidas podem ser tomada simultaneamente em 2 sentidos: ao mesmo tempo em que se amplia a poupança, pode-se buscar reduzir conscientemente o número de compras parceladas e financiamentos que se inicia, por exemplo.

Decisão 3: Quanto poupar por mês

Potencialmente esta é a decisão que tem maior impacto sobre a motivação, e a que envolve mais disciplina: quanto poupar por mês.

Só você pode avaliar do que abrir mão, quanto desviar de outras aplicações, ou se é possível ampliar a renda mensal. O valor escolhido deve corresponder ao plano de metas, naturalmente.

Considerando a disciplina e a motivação, caso a fonte do fundo de reserva seja a redução de despesas supérfluas, pode fazer sentido realizar os depósitos semanalmente, em quantias menores, mesmo que os seus rendimentos sejam mensais. Você verá o bolo crescer, e cada depósito individual vai doer menos no bolso.

Se você tiver problemas de disciplina, muitos bancos oferecem planos de transferência automática mensal para uma série de planos de capitalização (que em geral não são ótimos investimentos), e aí a mordida será automatizada: todo mês, após o salário pingar lá no fundo da conta corrente, uma parcela vai para a reserva.

Mas faça com que esta conta de destino seja exclusiva para o fundo de reserva - misturar todos os fundos em um saldo comum não é bom para a disciplina, e nem para a motivação.

Depois de decidido, coloque em prática!

Nenhum plano vale nada se não for colocado em prática e mantido.

Se você decidir, faça os sacrifícios necessários e busque constantemente as metas definidas. Ao final do prazo, você terá alcançado o valor desejado e, o que é melhor, poderá ter desenvolvido uma rotina de poupança que poderá ser canalizada a outros investimentos mais rentáveis, ou à aquisição de bens que sejam de seu interesse.

Em especial, saiba também quando chega a hora do movimento contrário: o fundo de reserva está lá para emergências, e não necessariamente apenas para algum momento em que você se veja privado de suas fontes de receita. Uma manutenção inesperada (e emergencial) no carro ou na casa podem ser bons motivos para fazer uso dele.

Mas se vier a usar os recursos do fundo numa situação assim, saiba refazer seu planejamento e colocar em operação um novo plano de metas para recompô-lo e voltar a usufruir da paz de espírito que ele pode prover!

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