Decisão para 2015: valorizar ainda mais os erros, mas evitar o retrabalho

Parece uma contradição? Mas os erros são um elemento importante da fase de aprendizagem e desenvolvimento, eles só não podem ter lugar na hora da execução.

Perde-se muita capacidade e potencial quando se quer aprender algo ou ter ideias novas, mas se cede ao medo de errar.

Já escrevi um post inteiro sobre a necessidade de aprender a falhar melhor, e não estou sozinho nessa: célebres realizadores, como Thomas Edison, Samuel Beckett e Henry Ford, defenderam igualmente a importância de estar disposto a errar, porque se aprende muito com os erros.

A diferença entre o mestre e o aprendiz muitas vezes é que o primeiro já errou mais vezes do que o segundo já tentou.

Sabemos que um dos conceitos da Qualidade1 é a ausência de erro, mas isso está muito mais ligado aos processos de produção e execução do que aos de criação, aprendizado e desenvolvimento — afinal, esse erro (na definição técnica, ele é chamado de defeito) é aferido comparando o que foi executado em relação a uma especificação formal, e ela raramente existe quando um processo ou produto ainda está sendo criado.

Em outras palavras, os 2 erros do atirador de facas do vídeo de 30 segundos acima estariam ok durante o treinamento (com um boneco, de preferência), mas definitivamente não têm lugar num programa ao vivo da TV da Lituânia (mas a atitude do assistente mereceu aplauso) ;-)

No segundo semestre de 2014 eu dei uma parada com os blogs e me dediquei a aprender 2 novos ofícios: o de marceneiro e o de técnico em eletrônica. Estou na fase inicial de ambos, mas fiz uma mesa de churrasco com a altura que eu queria, uma máquina de fliperama para a nossa churrasqueira, uma sapateira para todos os meus sapatos, e vários outros projetos eletrônicos de menor porte2.

Esses mencionados são os que deram certo, mas também errei muitas vezes, por exemplo ao tentar fazer uma lixeira com porta vai-vém e um carregador de celular com 4 pilhas AA. Me orgulho desses meus erros, com eles aprendi coisas que contribuíram para os demais acertos, e em algum momento voltarei para os projetos que deram errado e os acertarei também.

Essa é a parte I da atitude que desenvolvi em 2014 e quero manter em 2015.

E o tal do retrabalho

Enquanto estou criando, desenvolvendo ou aprendendo, não me importo de errar: são erros com saldo positivo.

Depois que já há um padrão ou procedimento bem estabelecido, e estou fazendo algo que precisa ficar pronto no prazo, na qualidade e na especificação esperadas, a situação muda: não é mais hora de errar, nem de improvisar.

Quando se está na fase operacional, de execução ou produção, o erro é custo, prejudica o resultado, compromete a relação com o cliente.

Mesmo quando se está fazendo algo para si mesmo, e se consegue retomar o prazo e a especificação, o erro tem uma punição automática: o retrabalho.

Mas esse é apenas um dos casos de causa de retrabalho. Há outros piores, porque são mais evitáveis e mesmo assim deixamos acontecer.

Começo com a grande exceção: às vezes é especialmente difícil evitar o retrabalho, especialmente quando a atividade envolve criação artística difícil de prototipar. O cliente não tem como visualizar antes de estar pronta alguma versão, e nem mesmo consegue avaliar o efeito das alterações que ele pede a cada nova versão, e assim fica indo e voltando erraticamente.

Para os demais casos, existem antídotos melhores: uma especificação clara e com o nível de formalização necessário, padrões de solicitação e confirmação de mudança, atribuição clara dos papeis de responsável por especificar e por aprovar, aprovação prévia não apenas do produto desejad mas também do processo produtivo, etc.

O retrabalho prejudica a relação mesmo que o profissional seja ressarcido pelo tempo e o esforço empregados, e o cliente acabe recebendo o que desejava.

Às vezes o curto prazo ou baixo custo de uma atividade servem como desculpa para não se gastar tempo com "essas burocracias", mas aí é certeza: o custo e o prazo vão ser estourados e ficar como prejuízo para algum dos lados da relação – ou seja, mesmo quando eu sou pago pelas minhas horas e esforço, haverá um outro lado que sairá perdendo e, ainda que a culpa pela improdutividade seja só dele, vai refletir sobre a minha motivação e, ainda que injustamente, sobre a minha imagem.

Daí vem a minha decisão para 2015, parte II: em todos os processos e fluxos sob meu controle, vou investir ativamente em prevenir o meu retrabalho. Não vai ser só a produtividade que vai agradecer: a motivação também agradece.

 
  1.  Embora não o meu preferido, que é "Qualidade é adequação ao uso".

  2.  Venho narrando esses projetos eletrônicos no BR-Arduino.

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