Plágios: A "Estratégia Shakira" para lidar com o "roubo de conteúdo" de nossos blogs

Plágios de conteúdo são um fato da vida, mas entre os blogs que publicam material original a questão de ser vítima do plágio é especialmente presente. Considero uma situação inevitável no momento, mas a "estratégia Shakira" ajuda a minorar os danos (ou até mesmo a questionar o tamanho do impacto real deles) e me permite encarar a situação com muito menos stress.


A cantora colombiana Shakira

Coloquei a expressão "roubo de conteúdo" entre aspas até no título, porque ela é bem imprecisa. Roubo é algo bem definido na nossa legislação, mas o que o pessoal que reproduz sem autorização (e sem nem mesmo citar a origem, às vezes) o conteúdo de blogs em desacordo com os direitos autorais de seus verdadeiros autores, quando é crime, tem outros nomes - não é propriamente roubo.

O que a Shakira tem com isso?

Roubo ou não, essas reproduções não autorizadas incomodam bastante gente - a alguns mais do que a outros. Vejo tantas vezes artigos e posts apresentando detalhamento jurídico da questão, descrevendo estratégias para lidar (extra-judicialmente ou não) com a questão de reagir às pessoas que plagiam artigos, e outros temas relacionados, e sempre me pergunto sobre a efetividade disso tudo, porque na prática sempre chega mais gente para copiar mais e mais, e raramente vejo medidas individuais que compensem esforço.

Se este tipo de medida reativa ou punitiva (que não vou abordar) lhe interessar, dê uma olhada no post da Nospheratt a respeito, e depois consulte seu advogado - inclusive sobre aspectos como as limitações aos direitos autorais, que são o instrumento que, quando bem usado, pode permitir reproduzir material até mesmo quando o autor colocou uma tarja de "todos os direitos reservados, reprodução proibida".

Mas minha abordagem é bem outra, e o que me levou a pensar em dividir com vocês minha opinião sobre isso foi uma notícia da semana passada sobre o posicionamento da Shakira sobre os downloads não-autorizados de suas músicas.

E ela tem até bastante dinheiro a potencialmente perder com isso, afinal tem sido recordista de vendagens internacionais (inclusive por ter apelo em várias situações demográficas...), mas mesmo assim se preocupa pouco com os fãs que obtém as músicas via Internet sem pagar, e sem autorização: para ela, isso até a faz sentir mais próxima deles.

Mas a ligação essencial entre o que ela pensa sobre o compartilhamento não-autorizado das suas músicas e o que eu penso sobre os plágios do nosso material escrito em blogs é este: Shakira acha inevitável que compartilhem os arquivos de suas músicas - e por isso se estressa menos com isso.

Temos isso em comum, eu e a Shakira: também assumo que o plágio do meu material textual é inevitável, e por isso me estresso menos com ele. Me estresso tão pouco com o assunto, que optei desde o nascimento do site pelo uso de uma licença que permite livre republicação - o que não me livra dos plágios, porque o pessoal não quer republicar, eles querem mesmo é copiar na íntegra sem mencionar fonte nem autoria, e ainda agir como se o material fosse criação deles.

Afinal, a cada minuto surgem 5 adolescentes achando que vão ficar ricos rapidamente montando um blog com material que "encontram pronto" na web, mandando "propostas de parceria" pra todos os sites com PageRank 4 ou superior que encontrarem, e enchendo todo o espaço disponível com bannerzinhos questionáveis ;-)

É preciso reconhecer o inevitável

Note que não estou sugerindo que você não deveria tentar evitar ou coibir plágios. Cada um escolhe a conduta que melhor se adequa às suas circunstâncias.

Mas ao reconhecer o plágio na web como algo inevitável leva a pelo menos uma vantagem: precisamos levar isso em conta na hora de desenvolver uma maneira de lidar com a situação - afinal, a resposta planejada a um risco precisa considerar a probabilidade de que a situação ocorra. E esta resposta pode ser algo simples, como decidir ignorar completamente a questão (que não é o que eu recomendo).

Outra alternativa é a "estratégia Shakira" que mencionei no título, e que eu pessoalmente adoto há tempo, e que hoje vi também ser recomendada no artigo "25 things I wish I’d known when I started blogging": tirar algum proveito da preguiça e desatenção dos plagiários.

Aplicando a "estratégia Shakira"

Links para seu site publicados por quem vive de plagiar conteúdo alheio valem pouco como "ferramenta de SEO" no sentido em que esta expressão é mais frequentemente empregada: algo que faça aumentar o PageRank ou gere algum benefício em decorrência da classificação do seu site nos mecanismos de busca.

Mas eu tenho o hábito de analisar as estatísticas de acesso dos meus sites, e percebo como é frequente receber visitantes vindos destes sites plagiários, e como muitos destes visitantes inesperados navegam por várias páginas dos meus sites. São visitantes da categoria mais desejada: já chegam interessados nos assuntos que cubro. E acredito que muitos deles até mesmo acabem voltando mais vezes, ou assinando o feed do site - a lei das probabilidades indica que sim.

Isso acontece devido à minha implementação da "estratégia Shakira" mencionada acima. Como sei que a maioria destes plagiários é de preguiçosos que mal dominam suas ferramentas de publicação, faz tempo que aplico a prática de, sempre que consigo, encaixar em meus próprios textos alguns links que façam sentido dentro do contexto, e conduzam a outros textos aqui do Efetividade que tratem de temas relacionados.


A cada 5 minutos surgem vários teenbloggers achando que vão revolucionar a web - com conteúdo alheio

Como os plagiários compartilham entre si a característica essencial de ser preguiçosos, geralmente eles copiam os posts integralmente, incluindo os links - e aí, ao publicar o artigo em seus próprios sites, acabam fornecendo aos seus leitores estes links para o meu conteúdo original. Não que eles tenham muitos leitores, mas dentre os poucos que há, alguns têm interesse nos temas abordados, e acabam chegando a mim desse jeito - e parto da premissa de que o conjunto de material original que disponibilizo aqui tende a ser mais interessante que as coleções de artigos plagiados que há nestes sites de onde estes visitantes surgem ;-)

E leitores que já chegam interessados nos temas que abordo é algo que sempre me interessa, mesmo que eles cheguem a mim por este caminho tão pior que os demais...

Ninguém espera a inquisição espanhola

O pessoal que reza pela cartilha do SEO para aumentar a visibilidade dos seus blogs pode ficar preocupadão com este tipo de prática da "estratégia Shakira" (que, de fato, não é uma técnica de SEO), porque são doutrinados a acreditar que conteúdo duplicado e links vindos de sites duvidosos prejudicam o PageRank e outros indicadores gerenciados pelos sites de busca.

A premissa é mesmo verdadeira, mas não necessariamente a conclusão. Ocorre que os sites de busca não são bobos e nem burros - eles nos permitem aplicar a técnica de seleção de alvos desenvolvida inicialmente pelas tropas católicas, na Idade Média.


Cruzada Albigense

Explico: a História registra que durante a Cruzada Albigense, dirigida contra a chamada "heresia cátara" na França, em um determinado momento o líder das tropas papais deu a ordem de que se exterminasse a população da cidade de Béziers sem levar em conta a filiação religiosa de cada uma das vítimas e pronunciando, segundo a crônica de Cesáreo de Heisterbach, a frase: "Matai-os todos, Deus reconhecerá os seus!"

Por trágico que possa ser o exemplo, e sem querer fazer paralelo entre os agentes envolvidos, a estratégia de seleção de alvos da Cruzada é similar à que pode ser aplicada por muitos de nós (exceto em casos bem específicos de tramas armadas com a intenção de prejudicar um site) na hora de se preocupar com o "efeito SEO" de artigos duplicados e links de procedência duvidosa: saber que o Google costuma ser muito bom em "reconhecer os seus", e em remover os efeitos (positivos ou negativos) destes sites sobre as suas métricas.

Concluindo e resumindo

O tempo passa, e fico cada vez mais com a impressão que a palavra problogger, que já foi popular, está caindo em desuso. Nunca me considerei enquadrado na categoria (sou blogueiro amador há mais de 10 anos, com muito orgulho), mas entendo o interesse das pessoas que lidam com seus blogs como se fosse um empreendimento com fins lucrativos.

Para mim, o interesse maior é ter leitores interessados no que escrevo, e de preferência que venham até aqui regularmente, de modo a estabelecer um diálogo, seja pelos comentários ou pelas reações silenciosas que detecto ao analisar as estatísticas de acesso do site - qual a expressão de busca que as pessoas estavam procurando quando chegaram aos artigos, quais os links internos que elas seguiram, etc.

Neste sentido, os plagiários não ajudam, mas ao mesmo tempo eu reconheço que não conseguirei evitá-los, assim como a Tecnologia, a Lei e a Justiça não conseguirão - ao menos a médio prazo. Reconheci isso há bastante tempo, e montei uma estratégia de redução de dano para trabalhar isso a meu favor, dentro do possível.

Os resultados, em números absolutos, são pequenos - afinal, sabemos que estes blogs plagiários não têm tantos leitores assim, nem costumam durar muito. Mas eles são constantes, e têm um componente interessante: todos os (poucos) leitores que chegam desse jeito todos os dias, chegam porque estão de fato interessados nos temas que abordo, e não por acidente ou como efeito de redes de contatos. Leitores assim são sempre bem-vindos!

Portanto, concluo: um brinde à Shakira e ao gerenciamento de riscos!

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